Segundo último levantamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), houve um crescimento de 84,73% no número de cirurgias bariátricas realizadas no Brasil entre os anos de 2011 e 2018.
Você conhece as técnicas de cirurgia bariátrica que são autorizadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) no Brasil? Quer saber mais sobre como são realizadas e os cuidados que envolvem o pré e o pós-operatório? Então, continue a leitura do artigo.
Antes, um breve resumo sobre as cirurgias bariátricas
A cirurgia de redução de estômago, como é conhecida, atua no tratamento da obesidade mórbida ou grave, segundo o Índice de Massa Corporal (IMC) e das comorbidades, ou seja, doenças adquiridas em função do excesso de peso corporal, como é o caso da hipertensão e o diabetes.
Quem está apto a realizá-la?
A cirurgia bariátrica não é um procedimento disponível para qualquer pessoa diagnosticada com obesidade. Assim, para ser considerado apto, o paciente precisa atender aos critérios estabelecidos na Resolução n.º 2.131/2015 do CFM. São eles:
- índice de massa corporal (IMC) maior ou igual a 40;
- se o IMC for entre 35 e 40, precisa ter o histórico de, pelo menos, duas comorbidades.
- idade mínima de 18 e máxima de 65 anos;
- menores de 16 anos somente em casos de síndrome genética ou por recomendação da equipe médica e com autorização do responsável legal.
- acima de 65 anos apenas com a avaliação do risco cirúrgico, a presença de comorbidades, expectativa de vida e quais os benefícios que o emagrecimento trará;
- ter histórico de acompanhamento médico com um endocrinologista;
- insucesso ou recidiva do aumento de peso.
Ainda, ao cumprir esses requisito, o paciente também irá realizar uma bateria de exames clínicos e laboratoriais, além de passar pela avaliação clínica de cada especialista que compõe a equipe multidisciplinar.
Conheça as técnicas de cirurgias bariátricas
O Conselho Federal de Medicina é o órgão regulador deste procedimento. Neste sentido, é o CFM que também reconhece e valida as técnicas cirúrgicas a serem utilizadas no Brasil. Atualmente, existem cinco diferentes técnicas de cirurgias bariátricas regulamentadas. A seguir, saiba mais sobre elas.
Bypass Gástrico
A gastroplastia com derivação intestinal em Y de Roux (GYR), como é chamada, é a técnica de cirurgia bariátrica mais realizada no país, representando cerca de 75% de todos os procedimentos já executados.
Ainda, a grande demanda por essa técnica é justificada pela sua segurança e eficácia, pois, além da alta taxa de sucesso, pode oferecer uma redução de até 70% do peso inicial do paciente.
Além disso, diferente de outras técnicas, o bypass gástrico envolve não só a redução do tamanho do estômago, mas também uma alteração no trânsito intestinal. Após o procedimento, a costura do intestino apresenta um formato parecido com a letra Y, o que explica o nome (Y de Roux).
Como a Cirurgia bariátrica é realizada?
A primeira etapa da cirurgia é o corte no estômago, na região junto ao esôfago, dividindo o órgão em duas partes. A porção menor mantém todas as funções e a parte maior perde grande parte das suas responsabilidades, inclusive a de armazenar alimentos.
Em seguida, o intestino também sofre um corte no jejuno e é unido a porção menor do estômago, criando um tubo para a passagem dos alimentos. Posteriormente, a parte maior do órgão também é conectada ao mesmo tubo para permitir que o alimento seja digerido.
Como é o pós-operatório?
A gastroplastia com derivação intestinal em Y de Roux é uma cirurgia complexa. Por isso, a plena recuperação do paciente pode variar entre seis meses a um ano. Para que os resultados sejam satisfatórios, é necessário seguir à risca as orientações médicas, tais como:
- realização de caminhadas a partir do primeiro dia depois da cirurgia, ainda no período de internação;
- reeducação alimentar a partir da realização de dieta indicada pelo nutricionista;
- uso de suplementos vitamínicos, como ferro ou vitamina B12, para evitar o risco da anemia crônica;
- realização de curativos no abdômen uma semana após a cirurgia;
- remoção do dreno após a indicação médica;
- uso de medicamentos inibidores da produção de ácido antes das refeições;
- evitar esforços físicos nos primeiros 30 dias do pós-cirúrgico.
Ademais, após a recuperação total da cirurgia bariátrica por bypass gástrico, pode ser preciso realizar um procedimento estético para a remoção do excesso de pele chamado de abdominoplastia.
Gastrectomia vertical (Sleeve)
Dentre as técnicas utilizadas no Brasil ,a gastrectomia vertical é a mais recente e sua aplicação tem se popularizado em função dos bons resultados que produz. O procedimento visa a diminuição da capacidade de armazenamento do estômago.
Ainda, a técnica promove o grampeamento do estômago, sendo retirado de 70 a 80% do órgão. Dessa forma, passa a ser um reservatório com capacidade máxima de 100 ml. Em decorrência dessa redução, o paciente ficará saciado mais rapidamente.
Diferente de outras técnicas, o sleeve gástrico não altera o caminho dos alimentos, pois não promove modificações no trânsito intestinal. Com isso, não afeta a absorção de nutrientes, vitaminas e minerais. Outras vantagens são:
- não afeta a absorção de nutrientes, vitaminas e minerais;
- pode ser revertida caso não ofereça o resultado esperado;
- permite o acesso às vias biliares e pancreáticas por endoscopia;
- não exige anastomose ou rotação do intestino;
- menor chance de apresentar síndrome de dumping;
- não há a possibilidade de ocorrer a hérnia de Petersen;
- baixo risco de complicações.
Derivação biliopancreática (DBP)
A derivação biliopancreática é a associação das técnicas de gastrectomia vertical e bypass gástrico. Isso porque consiste em remover até 85% do estômago do paciente e desviar o trânsito do intestino. Essa técnica é indicada para pacientes que possuam um grau elevado de obesidade.
Ainda, com o desvio intestinal, o alimento passa por um caminho diferente do trajeto por onde circulam a bile e o suco pancreático. O contato com essas enzimas ocorre apenas a 100 cm antes do fim do intestino delgado, inibindo a absorção de nutrientes.
Por fim, a técnica de DBP também impacta na produção dos hormônios intestinais, alterando os mecanismos de fome e saciedade, além de promover o controle do açúcar no sangue.
Banda Gástrica e Balão Intragástrico
A banda gástrica e o balão intragástrico são recursos menos invasivos e reversíveis para a redução da sensação de fome e maior saciedade. Em ambos os casos, coloca-se um dispositivo de silicone para diminuir a capacidade do estômago.
Enquanto a banda gástrica é uma prótese de silicone colocada em torno do estômago. O seu diâmetro pode ser regulado por injeção de líquido no reservatório. Por ser reversível, sua retirada possibilita realizar outros procedimentos bariátricos.
Já o balão intragástrico envolve a colocação de um reservatório também de silicone, por via endoscópica, que promove a diminuição da capacidade do estômago. Esse dispositivo precisa ser substituído periodicamente.
O principal benefício está na versatilidade da técnica, que também é pouco invasiva e reversível. O aspecto negativo é a possibilidade de rejeição da prótese pelo organismo, além de ser inadequada para pacientes portadores de esofagite de refluxo e hérnia de hiato.
Enfim, com a leitura deste artigo, você conheceu os aspectos mais relevantes sobre as técnicas para a realização das cirurgias bariátricas. A decisão pelo procedimento será tomada pelo médico em conjunto com o paciente, a partir da consideração de diversas variáveis.
Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter, e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como cirurgião no Rio de Janeiro!